terça-feira, 14 de abril de 2009

QUAL AUTO EUROPA, QUAL QUIMONDA?! QUEM SE PREOCUPA?

O encerramento de escolas, de serviços, de empresas, de pequenas e médias empresas, de comércios disto e mais daquilo tem sido e vai ser cada vez mais uma triste realidade, sobretudo em meios do interior profundo, como é o caso das nossas terras.
No entanto, a preocupação, por quem de direito, não tem sido muita, para não dizer nenhuma, de há uma dezena de anos para cá.
O distrito de Bragança teve o seu boom por volta dos meados/finais dos anos 80. Infelizmente, para todos aqueles que gostam de ter qualidade de vida, os invejosos deste país resolveram pôr término a essa regalia. Isto porque este distrito assistirá este ano a um êxodo quase de dimensões bíblicas (salvaguardando as respectivas proporções) com a possível saída de imediato de aproximadamente 500 docentes aos quais se seguirão os respectivos conjugues e descendentes. Tudo porque dos cerca de 2300 educadores e professores dos diferentes graus de ensino a trabalhar neste QZP, só cerca de 1800 cá poderão continuar cá, uma vez que os números não enganam, só há 202 vagas positivas e 112 negativas no total dos diferentes grupos. Sem ser alarmista e, infelizmente, o tempo dar-nos-á razão (ficaria feliz se isso não acontecesse), não se entende mais esta atitude desbaratinadora e estritamente economicista do ME (à semelhança do que já assistimos com a Avaliação de Desempenho, com a Educação Especial, com a transferência de poderes para as autarquias…). E tudo isto em nome da qualidade oriunda de outros países como a Finlândia, por exemplo (p.e.). Mas será que importaram tudo desses países? Não, claro que não!
Para resolver este êxodo, há, entre outras, uma solução em nome da qualidade que defendo, há vários anos, e que evitaria, desde logo, este abandono do interior: a diminuição de alunos por turma e um aumento de professores na Educação Especial, em projectos, em áreas não curriculares, em apoios... contribuindo e combatendo, ao mesmo tempo, o insucesso e o abandono escolar, evitando o facilitismo e criando condições para que todos buscassem uma profissão e não um canudo.
Há, portanto, comportamentos e políticas que não se entendem. Quando há países ditos civilizados (da UE, p.e.) que investem tudo na descentralização e povoamento de todo o seu território, de forma a criar maior riqueza e mais-valias, em Portugal temos assistido a este crescente esvaziamento do interior, visando engrossar o litoral, nomeadamente Lisboa e Vale do Tejo, Porto e Península de Setúbal, regiões demarcadas pela falta de qualidade, mais particularmente, pela miséria, pela fome, pelo desemprego, pelo crescendo de favelas e sem abrigo, pela violência nas escolas logo na sociedade, na família, os roubos, os assaltos, a insegurança, enfim, aspectos que acabam por ser consequência da crise em todas as vertentes da vida humana que os grandes pensadores/políticos/economistas … dos anos 90 semearam, cultivaram e estamos agora a recolher.
Importa, pois, questionar o seguinte: o que deram as facilidades na educação? O que valeram as facilidades bancárias e o país subsídio dependente em que nos tornamos? Que adianta termos boas casas, bons carros e todas as comodidades criadas pela sociedade do consumo, intelecto-bárbara e selvagem (Silvestre, 2000) se não vamos ter pessoas com capacidade de compra para as adquirirem?
Sabemos bem que é mais fácil aquecer todos, se todos estiverem à roda da mesma fogueira (leia-se grandes centros) uma vez que a lenha será transportada toda para o mesmo sítio (por TGV, por Avião ou pelas Auto-estradas que se construíram ou se estão a construir); também só se gastará um fósforo para a acender; e também se gastará menos lenha, menos acendalhas…
Porém, esquecem-se os iluminados que desta forma não se consegue aquecer toda a gente, pois a roda, ao ser muito grande, fará com que aqueles que estão mais afastados tenham frio. E estes, pelo seu instinto de sobrevivência, próprio do ser humano, lutarão pelo fogo, o que fará com que outros também lutem e os tais deuses do lume ainda não perceberam que não se vão conseguir salvar, por mais posses que tenham.
Não é criando clivagens sociais e denegrindo injustamente profissões e pessoas que as vão conseguir ostracizar e amarfanhar.
A criação de reservas de indígenas (habitante que resistiu no Portugal profundo), quais viriatos, em nada contribuirá para o desenvolvimento de Portugal. Pelo contrário, voltaremos ao tempo das cavernas…
Não é privatizando tudo, inclusive a educação (escolas); não é salvando bancos (leia-se os amigos donos dos bancos); não é inventando cabreras (para quem estiver a ler e não for desta região, cabrera é uma espécie de rato que impediu a construção de uma estrada), morcegos e outras espécies que tal; não é com encerramentos de linhas e barragens, ou com a saída de professores (mão de obra especializadíssima), que consequentemente, arrastarão com eles famílias inteiras, restantes crianças (logo encerramento de mais escolas), comerciantes, serviços, e outros, que vamos tirar Portugal da crise.
A crise tem de ser resolvida com o contributo de todos: com respeito mútuo, com solidariedade, com dignidade, com justiça, com saúde, com educação, enfim com pessoas livres e de bons costumes que saibam que pouco conhecimento faz que as criaturas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, que se sintam humildes. É por isso que as espigas sem grãos erguem desdenhosamente a cabeça para o céu, enquanto as cheias as baixam para a terra, sua mãe (Leonardo Da Vinci). O mesmo se irá passar certamente com as pessoas no mundo, terão que voltar ao chão: da terra viste para a terra hás-de voltar.
Se queira
 
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