segunda-feira, 20 de julho de 2009

Aulas de Substituição por Amas-Secas, Guardadores ou Cuidadores

Nem parecia que estávamos num directo televisivo, com milhões de pessoas a assistir. Falava-se nas tão célebres aulas de substituição e a Srª Ministra resolve revelar-se no seu melhor: “os senhores professores se têm que fazer de amas-secas e guardar meninos… ”. Lembram-se. Incrivelmente, algumas pessoas bateram palmas (o pior que pode existir é um povo desinformado e pouco esclarecido; ajuda à implementação de ditaduras…). Provavelmente, papás que acham que a Educação só deve ser dada na Escola e que os filhos têm é que estar guardados e protegidos. Alguns, se pudessem, deixavam-nos na Escola à hora a que vão para o emprego e iam-nos buscar à hora de deitar. Enfim. Estou à vontade para escrever isto, pois também sou pai, e como tal, sei que não é esta a função da escola: Guardar Meninos. Alguém já escreveu que a Educação começa em casa, eu penso que devia ter começado na casa dos avós de cada um de nós …Voltando ao debate televisivo de 21-11-2005, vimos e ouvimos que de pouco valeu o que o Professor António Nóvoa, para mim, o maior especialista Português e um dos maiores especialistas mundiais em Educação, disse sobre o problema do país: o pouco (“quase nada” cfr. Nóvoa) investimento que tinha sido feito nos últimos 50 anos nesta área. Assim, depois de tanto dinheiro gasto nessa formação, será que valeu a pena? Pegando na ideia da Srª Ministra, acho que foi dinheiro desperdiçado. Sabem quanto custa formar um Educador e um Professor? Milhares de euros! Sabem quanto tempo demora a formar um Educador e um Professor? Entre 17 e 23 anos, isto se se fizer um mestrado e um doutoramento (Srª Ministra nos Jardins de Infância e na Escola Básica e Secundária, também há docentes mestres e doutores!!!). Por isso, nesta lógica de ama-seca, guardador ou cuidador, não havia necessidade do Estado e das famílias terem dispensado tanto tempo e dinheiro, isto sem qualquer menosprezo para com as Amas, que são tão precisas como outros profissionais quaisquer. Mas pronto, agora esse papel tem que caber aos docentes! Tanto dinheiro e tempo perdido!!... Não fosse o país elitista e novo-rico em que nos tornámos (vejam o que foi dito no programa: os filhos desse país elitista não frequentam a Escola Pública. Porque será?) e não se estaria a querer que os docentes tivessem mais esta função que em nada abona a favor do prestígio da educação e da inteligência dos filhos que os papás, que então bateram palmas, desejam. O problema da escola tem que ser encarado com respeito, dignidade e profissionalismo. Há hoje variadíssimos cursos (animação sócio-cultural, comunitária, educador social…) e licenciados no desemprego, que podem numa lógica, não de guardadores, mas de pessoas implicadas no acto educativo, promover e dinamizar as tais aulas de substituição na perspectiva de educar (não ocupar) com dignidade e valor as aprendizagens e princípios (solidariedade, respeito, amizade, lealdade, honradez, sinceridade…) dos meninos, de forma a que estes não sejam mais um número, mas sim uma pessoa. Porém, como pai, (e ainda ninguém teve a coragem de dizer isto) também tenho a certeza que as crianças deviam ter a possibilidade de, de vez em quando, terem um feriado (já não se lembram como era bom?!...) para poderem brincar, jogar à bola, crescerem nas aprendizagens da vida (evitando a desumanização que ouvi, aqui há tempos, de um professor de medicina que dizia que tinha os alunos mais inteligentes do mundo, mas também os mais frios deste mundo). Neste sentido, se a lógica for a economicista, ou seja, a lógica da sociedade intelecto-bárbara e selvagem (SILVESTRE, 2003*) que somos, então está certo: os meninos têm mesmo é que estar ocupados (pseudo)cientificamente e redomados (será que acabei de inventar uma palavra?!) dos infelizes. Se é assim, então sim: vivam os docentes amas-secas, guardadores e cuidadores. Mas mesmo assim, ainda me atrevo a fazer um apelo: os senhores educadores e professores não se podem esquecer que só existem porque há alunos; mas os papás (não se esqueçam que há professores que são pais) também não se podem esquecer que o contrário é igualmente verdadeiro. Como tal, tem que haver mais respeito e dignidade de parte a parte e depois, como os mais velhos têm que, segundo a lei universal de há milhares de anos, ser mais responsáveis e profissionais, também têm que ter mais autonomia e autoridade, não autoritarismo… Entendam-se, dialoguem… ingenuamente (!!!) penso que o que todos queremos é o mesmo: o bem da sociedade!!!... mas as moscas apanham-se com mel, não é com fel!!!…

*SILVERSTRE, C. (2003). Educação e Formação de Adultos, Como Dimensão Dinamizadora do Sistema Educativo. Lisboa: Instituto Piaget, Colecção Horizontes Pedagógicos.

1 comentário:

hugh disse...

Meu querido Carlos,

Só agora me permiti deixar o meu comentário, premeditadamente pendente tão só pela atenção que a tua iniciativa faz merecer, qual iluminado acto de resgate da verdade à raia da ignorância e da hipocrisia.
Devo dizer-te que nada do que escreveste foi surpresa para mim. Não seria de esperar outra coisa de ti! Quem te conhece de perto sabe bem - tu és o que escreves. Que o que te “entretém” os nervos, não é mais que o que te navega o sangue - um profundo amor pela humanidade. Preocupado, profundo, sério e magnânime, qualquer lisonjeio será sempre redutivo face ao que nos dás.
Mais te digo, meu admirável amigo, que te devo muita gratificação pelo trato que me consentes. Pudéssemos todos gabarmo-nos de iniciativas como as tuas, pudéssemos todos “esgrimar” com espadas como as tuas, tão idílico seria este mundo, com melhor liberdade, mais igualdade e muita fraternidade.

Tudo de bom,
vasco

 
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