quarta-feira, 15 de julho de 2009

Mais de um século após...

Podia ter sido hoje …
o País que temos continua o que sempre foi, 113 anos depois…

Tenho escrito muito sobre a defesa de uma verdadeira educação/formação que pudesse levar o indivíduo a ser realmente autónomo, livre e justo. Já em tempos escrevi uma crónica baseada em Eça de Queirós (1871). Concluí nessa altura que afinal o país que somos advém daquilo que sempre fomos e tivemos (pouca educação/formação); ou melhor não fomos nem tivemos (educação/formação) de forma a poder escolher com propriedade e sem paixões partidárias quem nos defendesse. Isto é, que soubéssemos, na realidade, ser capazes de ler nas entrelinhas dos programas eleitorais aquilo que realmente os políticos querem de nós.
Há uns tempos atrás recebi um mail que trazia a seguinte mensagem: podia ter sido hoje… e que pretendo partilhar convosco, porque na realidade é mesmo hoje e traduz exactamente o meu pensar, embora eu não tenha as competências, nem a destreza intelectual para usar as palavras que aqui são expressas, senão leiam com atenção:
Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...). Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...). Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime dos pais, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre, - como da roda duma lotaria. A Justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas; Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)
Pois é queridos compatriotas, estamos perdidos há muito tempo, já o dizia Eça de Queirós em 1871, corrobora-o, também agora, neste excerto Guerra Junqueiro, in "Pátria", escrito em 1896.
Que fazer? Faça a sua parte, eu estou a fazer a minha… leia, eduque-se permanentemente, seja interventivo, participe na vida da sua comunidade, denuncie, pense pela sua cabeça, deixe de ser fanático… sei lá, há tanto para fazer, para que os nossos filhos possam ter futuro e vida no futuro…

1 comentário:

J.Paiva Setúbal disse...

Meu Querido Amigão e trocador de missivas, pouco frequentes... Fiquei feliz por conhecer mais esta faceta do teu modo de deixar passar o tempo. Porque ele passa sem nós querermos, embora não conheça qualquer razão para não querer ele passe. Mas como todos se queixam do mesmo, aqui fica mais um "pré-lamento".
Parabéns pelos textos e certamente ter-me-ás por cá a "dizer coisas" que é aquilo que sei dizer.
Para já não lamentes demasiado a nossa falta de educação. Ela deu para sobrevivermos quase 900 anos, até agora, e se queres saber uma coisa, fica com esta... Daqui a outros 900 ainda cá estaremos, os dois, a escrever disparates destes. Claro que o Eça teve, tem e terá razão. Mas é bom ter uns "Eça's" assim para podermos comparar críticas.
Como é "abração" em mirandês ?
Pois... isso. Aí vai um !

 
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